<$BlogRSDUrl$>

sexta-feira, outubro 03, 2003

Guimarães Luís, Vida e Obra, Capítulo II 

A Juventude na capital. Sinais de mudança. Incidente com um poster.

Em 1972 dá-se uma radical mudança na vida de José Augusto. A família muda-se de Betesga de Olivandros para a capital, e o seu pai morre, pouco depois, não aguentando separar-se da caçoilada de melros que uma afamada tasca da Vila fazia às quintas.
Guimarães, de dez anos e corpo franzino, tenta dezasseis vezes o suicídio atirando-se para o telhado do quartel dos bombeiros contíguo à janela do seu quarto. Numa dessas tentativas acaba por ferir sua mãe que fica cega de um olho.
Seguem-se anos difíceis. As propriedades da família Astor-Prates acabam penhoradas. Aos poucos (semanas), passam de desafogado triplex na Lapa, para um seis assoalhadas na Madragoa com vista para o Rio (de uma das casas de banho), até acabarem numa sub-cave nas traseiras de uma retrosaria que também servia de filial do clube de pugilismo de Coimbra, “Os Luvas do Calhabé”.
Com doze anos assiste ao 25 de Abril tolhido por uma mononucleose infecciosa. A excelente equipa de médicos que o acompanha (Curry Cabral), não consegue explicar cabalmente porque motivo o jovem agride os seus companheiros de quarto mais idosos com bolachas de baunilha da Cuetra (rejeitava Triunfo ou Nacional).
Acabam por lhe dar alta, mas demitem-se pouco depois, não aguentando a pressão de terem tomado tal decisão. O chefe da equipa, o Professor Doutor Magalhães Linóleo (1921-1974), acaba mesmo por desistir da medicina para se dedicar à escalada e é o primeiro português a tentar escalar a Basílica de Santa Sofia na Turquia, no dia 30 de Dezembro do ano de 1974.
Com catorze anos Luís envolve-se na política a fundo e tenta desesperadamente fundar um partido com dois colegas de liceu e um sem abrigo de nome José Miguel (o único maior de idade).
O Partido Anarquista de Todos os Operários (PATO) acaba por ter uma curta existência e passaria despercebido se o seu líder, Luís, não se tivesse tentado imolar pelo fogo em frente à embaixada da Bélgica.
O porquê da escolha da frontaria da embaixada da Bélgica para tão tresloucado acto é um mistério. Guimarães sempre se recusou a comentar o que quer que fosse relacionado com o assunto, chegando a engolir uma lista telefónica de Lamego para não ter que dar explicações.
Guimarães Luís, inconformado com a sua primeira experiência política, forma dois anos depois o braço armado de um partido que ainda não existia, mas que ele considerava ser uma sequência lógica da conquista do poder. Dois atentados com cocktails molotofs e uma tentativa de execução sumária de uma contínuo da escola que frequenta levam a que nem braço armado, nem partido, se firmem junto da sociedade portuguesa. Guimarães Luís é preso no gabinete do director, açoitado e mandado para casa.
Mas Guimarães era já, nesta fase, um homem multifacetado.
Escreve para dezenas de jornais que recusam quase sempre os seus artigos inflamados e próximos da insatisfação patológica. Escreve ainda poemas de carácter revolucionário com que enfeita os rótulos das garrafas de cocktails molotof que vende.
Aliás, este negócio é outra das suas acitividades. Fabrica todo o género de armas artesanais e cria-se o mito de que tem contactos com vários grupos terroristas internacionais e grupos de libertação. Durante meses desaparece e alguns falam que terá estado nas montanhas de Goresh Alor, nas ilhas do Pacífico Tuntaike Pah (que significa, Peixe Feliz) a ministrar formação de fabrico de armas artesanais para a guerrilha local, os Tigres da Primavera.
Nunca foi confirmado que tal tenha acontecido, mas um relatório da CIA denuncia a presença fugaz no arquipélago de um estranho instrutor de apelido Luís que se fazia acompanhar de um saco com bolachas baunilha (espanholas, segundo o relatório confidencial agora publicado). Mais um mistério que a história encerra no seu seio e que nos faz perguntar a todos, um pouco por toda a parte: E Josefa? (continua) EM

SEARA ALHEIRA 

Seara Cardoso, responsável pela cerimónia de inauguração do novo Estádio da Luz , diz que vai haver um espectáculo que não será musical. Está visto, é outra vez a Lena D’Água e os UHF. JQ

POC MUSIC 

A Liga de clubes deverá apresentar até ao final do ano um Plano Oficial de Contabilidade (POC), adaptado ao futebol português. Segundo consta, o modelo é copiado do utilizado na contabilidade dos cartéis colombianos, mas com alguns traços do sistema contabilístico inventado pelos italo-americanos de Chicago, em meados dos anos vinte. JQ

O TÚNEL AO FUNDO DA LUZ 

A Luz não se apaga” é mais um livro de Luís Miguel Pereira, o quadragésimo sétimo desde do princípio do Verão, altura em que partiu os dois braços. São duzentas e tal páginas, com a história do velho Estádio da Luz. Um drama pungente, com um final muito triste. O prefácio está a cargo de Manuel Vilarinho, e o posfácio é escrito por Luís Filipe Vieira, com a ajuda da sua velha professora, Dona Mené. JQ

quinta-feira, outubro 02, 2003

JOÃO PAULO POR SEGUNDOS 

Segundo o Cardeal Ratzinger, o Papa está a morrer. Não confio naquele Cardeal. Mesmo para quem vive no Vaticano, tem um ar demasiado sinistro. Seja como for, não me admirava nada que houvesse um conluio para assassinar Sua Santidade. Motivo? Eu gostava de saber quem herda as milhas de Frequent Flyer . JQ

quarta-feira, outubro 01, 2003

Guimarães Luís - Vida e Obra, Capítulo I 

Nascimento e infância. Imagens com pássaros. A Importância de Josefa.

No dia 23 de Novembro de 1962 os sinos repicam festivamente, durante dezassete intermináveis horas, na igreja de um bairro da zona ribeirinha de Setúbal. Estavam avariados.
Mas, e isso é que interessa, a perto de 300 quilómetros, na secular e conservadora Betesga de Olivandros, terra das tronchudas de amendoim e do poeta Morgado Nave, nascia, à mesma hora, José Augusto Toledo de Guimarães Luís, o primogénito de um jovem casal que, por motivos de saúde (alergias), decidiu fixar residência na terra.
Filho de António Augusto Toledo de Guimarães Luís e Josefa Luísa Maria de Gromijo e Astor Prates, o pequeno José Augusto passa a infância na idílica vila beirã onde pesca achegãs, despedaça ninhos de cotovias e frequenta, de calções demasiado justos, a escola primária.
O pai, António Augusto, é um médico comunista que, por respeito aos seus princípios, renega à fortuna incalculável da família, perdendo-a propositadamente ao jogo.
A mãe é uma inconformada duquesa que acha Betesga de Olivandros pouco cosmopolita comparada com Viena de Áustria e se vinga no velho piano da Igreja, tocando composições suas (uma delas, a estranha ode à infância e às madeiras exóticas, “Balança, Meu Cavalo de Pau Preto, Balança” é hoje o hino da vila).
António Guimarães Luís é preso várias vezes pela PIDE-DGS por ser comunista e porque conduz mal. Josefa tem depressões nas vindimas. Estes factos, e outros de menor interesse (como o estranho assassínio à pedrada do seu primo Daniel por um grupo de seminaristas), marcam o jovem Augusto.
Na escola o comportamento do rapaz preocupa. A certa altura e a culminar uma série de declarações infelizes, os pais são chamados porque o aluno, José Luís, escreve numa redacção que gosta de homens.
O pai desdramatiza dizendo que também ele pensou assim até ter onze anos, altura em que viu uma roliça prima a tomar banho com sabão macaco e se virou para o sexo feminino com tal apetite que até se engasgava só de ver um pescoço desnudado.
O caso acaba abafado e os dois jornais de Olivandros, “A Folha da Betesga” e o “Cornetim da União Nacional”, apenas tocam o assunto ao de leve, preferindo claramente temas mais positivos como, por exemplo, o relato da inauguração de um garboso busto de Morgado Nave.
Esta cerimónia contribui muito para o futuro do nosso Guimarães Luís. Com nove anos assiste à justa homenagem prestada ao poeta da terra, na altura septuagenário. No fim ouve-o dizer, no discurso de agradecimento, e enquanto olha fixamente para a estatueta que lhe é dedicada: “Chiça, que fiquei feio como os cornos”.
Esta singela e genuína declaração altera-lhe a vida. A partir daí decide ser toureiro.
A tradição por parte da mãe permitia o toureio a cavalo. O pai, por motivos ideológicos, só gostava de toureiros porque eram bons para a porrada. Mas Guimarães Luís decidira-se pela arte da bandarilha. Pouco distinta para a mãe e politicamente ridícula para o pai, esta opção é-lhe negada. Aos treze anos pensa suicidar-se até que ouve, por engano, um desinteressante disco dos “Golden Palominos” e descobre que quer escrever. Morre o bandarilheiro que há dentro do jovem José, mas nasce o romântico praticante e adepto da consumação. Talvez por isso as melenas da sopeira (que, tal como sua mãe, e por uma coincidência edipiana, se chamava Josefa) tenham sido alvo dos primeiros poemas do jovem e, os segredos guardados entre as coxas da rapariga, um alívio para a sua atarefada mão esquerda. Sim, porque Luís era canhoto. EM

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Site Meter